Achei que seria adequado que o primeiro post deste blog emulasse o título do primeiro livro das Desventuras em Série, o início dos infortúnios dos irmãos Baudelaire nas mãos do formidável e cruel Conde Olaf.
As razões que me levaram a esta decisão são em número razoável, e tal qual a Juíza Strauss, apresento aqui os meus argumentos para as semelhanças encontradas entre os escritos da minha pessoa e o livro de Lemony Snicket.
Não que precise pois, afinal, é meu blog, e meu post, então eu coloco o nome que eu desejar – essa é toda a graça.
A primeira justificativa não precisa ser outra, portanto, que não simplesmente: “Mau começo” me soa muito agradável, e é isso.
Há também o fato de eu adorar o Lemony Snicket, pseudônimo do autor Daniel Handler. Ele faz tão bem a coisa da persona que elipsa a pessoa. O narrador-personagem das Desventuras é a melhor coisa que eu já li em matéria de narrador, e olha, eu tenho lido bastante. Mas na verdade, sou bem parcial. É que quando penso em como gostaria de escrever – de uma forma excêntrica, aberta, espirituosa, crítica, mas que toca onde dói a ponto de você ficar boquiaberto com uma história à primeira vista escrita para crianças – ele é meu melhor exemplo.
Mas a maior semelhança é a seguinte. As Desventuras em Série me são queridas há muito tempo, e fiz, ao longo dos anos (a bem da verdade, desde 2009), espaçadas tentativas de leitura da série completa. Primeiro no notebook do meu pai, baixado da internet, anos depois no meu primeiro celular, e ainda depois em um outro.
Meu sonho e minha promessa eram: quando tiver os livros físicos, eu vou ler tudo.
Similar a isto é a minha trajetória com a escrita, especificamente falando, com a escrita na internet, portanto, a este blog. Já tem algum tempo que conheci esta possibilidade (a bem da verdade, desde 2020), mas as minhas tentativas anteriores também falharam. Não por não ter os meios, porque eu poderia ter lido também no computador, ou no celular. Mas me faltou a disposição de continuar, porque precisava de outra coisa. Deste lindíssimo box que me daria todos os livros com suas lombadas coloridinhas e ilustrações originais de todas as situações de desventura. Chame-o de “aprovação alheia, curtidas imediatas, vaidade, fama”. No dia em que o tivesse, eu chegaria ao final.
Bem, eu já tenho o box das Desventuras há uns seis anos. Há seis anos eles enfeitam lindamente minha estante, esperando serem lidos. Este projeto está esperando há quase cinco. O que espero eu a não ser o poder de começar sem sentir a dor do mau começo?
Todo começo, penso eu, é um pouco mau. O desencontro, a timidez, o não sei fazer, a necessidade de se dispor a aprender o novo, a humildade necessária. Não é prazeroso, pergunte aos Baudelaire! Mas a história deve começar. É preciso o mau começo. A vida acontece, e os incêndios também.
Ainda assim, gosto de pensar que, como na história deles, após um mau começo, as coisas vão se acertando. O caminho vai se fazendo pouco a pouco, enquanto é caminhado.
É certo que é um caminho meio estranho, que nos leva para lugares onde não acontecem muitas coisas boas, como na torre da mansão decadente do conde Olaf, na casa do tio Monty e da tia Josefine, na Serralheria Alto-Astral, no colégio interno, na cobertura dos Squalor e na Cidade Sinistra dos Corvos. Eu só cheguei até aqui.
Mas algumas coisas estão mais claras. Já sabemos, por exemplo, que não se deve subestimar o Conde Olaf, e devemos estar de olhos abertos para identificar sempre alguém da sua trupe. Que o sr. Poe tem boas intenções mas não é confiável. Que aliás, algum adulto é confiável?! Que os resultados não chegam de uma hora para outra. Que leva tempo. Que não se pode chamar de “especialista” se você não é especializado. Que é mais fácil se você não se levar tão a sério. Que o mau começo é inevitável.
E se todo começo é mau, então que seja. Estou me autorizando a humildade de começar, de falhar, mas de acreditar que os frutos, para serem colhidos, devem primeiro ser sementes plantadas. Ainda não sei o fim das crianças pelo livro, mas tampouco tenho pressa de termina-los, e tampouco tenho pressa de chegar em algum lugar com este projeto que aqui começa, e vamos vendo onde nos levará. Acredito (ainda, apesar de tudo) que em um bom lugar.
Afinal, como dizia nosso uncle Monty, life is a conundrum of esoterica.
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